Boquira. Um livro bonito, com uma escrita bonita a denunciar uma história verdadeira, dramática e feia. Assim é o romance do jornalista e escritor Carlos Navarro Filho, lançado no último dia 17 de dezembro, em Salvador.
O final do romance, exatamente os três últimos períodos do derradeiro parágrafo, chega inebriante, como um pedaço de cânfora na escavação do dente cariado. Alivia a dor, mas o filho de Deus – para usar a linguagem do autor – sabe que o estrago apenas foi amaciado e que o mal, a cárie, está instalada, corroendo o dente.
“Boquira” é assim, como láudano.
Em 126 páginas, Carlos Navarro Filho espalha sua escrita, que vai do jornalismo à literatura, pois ambos são estilos diferentes, para contar a triste vida vivida pelos habitantes do então povoado de Boquira, interior da Bahia, no primeiro quartel os anos 1950, após uma mineradora francesa alojar-se na região para exploração de chumbo.
Os personagens narram seus padecimentos, à mercê dos métodos sociais, econômicos e políticos da multinacional; o autor reforça a situação, trazendo o reflexo da poluição causada pelos resíduos de chumbo.
Na esteira de denúncia, Boquira mostra problemas semelhantes em Santo Amaro, no Recôncavo, local onde o chumbo era beneficiado. O objetivo aqui, destaca Carlos Navarro, é fazer com que esses tristes acontecimentos não sejam esquecidos.
O livro começa afirmativamente: “Faz um calor do cão nesta quarta-feira 3 de fevereiro de 1954”.
Quem conhece o jornalista Carlos Navarro identifica de imediato essa sua linguagem, quando ele a quer coloquial. É como escreveu sua neta, Luísa Navarro Vásques, 8 anos: “(…) eu sei que ele escreve lindamente!”
Ler Boquira e, mais ainda, participar do seu lançamento foi uma imensa satisfação para mim. O jornalista Carlos Navarro foi meu editor na Redação da Assessoria de Comunicação do Tribunal de Justiça do Tribunal de Justiça durante quatro anos – de fevereiro de 2006 a fevereiro de 2010.